Nova Teoria da gravidade dispensa matéria escura

Apesar dos esforços, nenhuma matéria escura foi encontrada até hoje.
Imagem do Telescópio Chandra. NASA.

Gravidade emergente

Uma nova teoria da gravidade consegue explicar os curiosos movimentos das estrelas nas galáxias sem precisar apelar para a matéria escura.

Batizada de "gravidade emergente" por seu autor, a nova teoria prediz exatamente o mesmo desvio de movimentos que o modelo cosmológico padrão explica inserindo a elusiva e nunca detectada matéria escura.

O professor Erik Verlinde, da Universidade de Amsterdã, na Holanda, um especialista renomado em Teoria das Cordas, acaba de publicar um artigo no qual ele expande suas visões inovadoras sobre a natureza da gravidade, que ele começou a esboçar em um artigo de 2010.

Segundo Verlinde, a gravidade não é uma força fundamental da natureza, mas um fenômeno emergente. Da mesma forma que a temperatura surge do movimento de partículas microscópicas, a gravidade emerge das mudanças de unidades fundamentais de informação, armazenadas na própria estrutura do espaço-tempo.

Lei de Newton da informação

Em seu artigo de 2010, Verlinde mostrou como a famosa Segunda Lei de Newton - que descreve como as maçãs caem das árvores e os satélites artificiais permanecem em órbita -  pode ser derivada desses blocos fundamentais microscópicos. Entendendo seu trabalho anterior, e incorporando melhorias publicadas por outros físicos desde então, Verlinde agora como entender o comportamento das estrelas nas galáxias, que parecem girar rápido demais.

A velocidade das estrelas é tão grande que é necessário haver uma força gravitacional extra para explicar porque elas não são arremessadas para fora das galáxias - a matéria escura é o componente teórico que foi adicionado à teoria para responder por essa "gravidade faltante". Contudo, até agora as supostas partículas de matéria escura nunca foram observadas, apesar de esforços e experimentos milionários para detetá-las.

"Não há necessidade de matéria escura"

De acordo com o professor Verlinde, não há necessidade de adicionar uma misteriosa partícula de matéria escura à teoria. Sua teoria de gravidade emergente prediz com precisão as velocidades com que as estrelas giram em torno do centro da Via Láctea, bem como o movimento de estrelas em torno de outras galáxias. "Temos evidências de que essa nova visão da gravidade realmente concorda com as observações", defende ele. "Em grande escalas, ao que parece, a gravidade simplesmente não se comporta da maneira que a teoria de Einstein prevê".

À primeira vista, a teoria de Verlinde tem características semelhantes a outras teorias modificadas da gravidade, como a MOND (Modified Newtonian Dynamics, ou Dinâmica Newtoniana Modificada). No entanto, onde a MOND ajuda a teoria para coincidir com as observações, a teoria de Verlinde começar a partir dos chamados primeiros princípios, sem qualquer necessidade de ajuste.

E seus cálculos batem com as observações mais recentes, publicadas no mês passado, e que também parece dispensar a necessidade de matéria escura, as quais abordam sobre a velocidade radial das estrelas ao redor do centro de suas galáxias.

O holômetro é um aparelho que procura
 indícios do Universo holográfico. Foto: Fermilab

Princípio holográfico

Um dos ingredientes da teoria de Verlinde é uma adaptação do Princípio Holográfico, introduzido por seu professor Gerard Hooft (Nobel de física de 1999, Universidade de Utrecht) e Leonard Susskind (Universidade de Stanford). De acordo com o Princípio Holográfico, toda a informação em todo o Universo pode ser descrita sobre uma esfera imaginária gigante ao seu redor.

O professor Verlinde afirma que essa ideia não está totalmente correta: parte da informação em nosso Universo está contida no próprio espaço. Essa informação extra é necessária para descrever aquele outro componente escuro do Universo: a Energia Escura, que é considerada responsável pela expansão acelerada do Universo - outra hipótese que está sob fogo cerrado.


Ao estudar os efeitos dessa informação adicional sobre a matéria ordinária, Verlinde chegou a uma conclusão impressionante: enquanto a gravidade ordinária pode ser codificada usando a informação na esfera imaginária ao redor do Universo, o resultado da informação adicional no volume do espaço é uma força que bate perfeitamente com aquela hoje atribuída à matéria escura.

À beira de uma revolução científica

A gravidade está mesmo precisando urgentemente de novas abordagens como a de Verlinde, uma vez que ela não combina não com a bem sucedida física quântica. Ambas as teorias, as joias da coroa da Física, não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, com os problemas emergindo vigorosos em condições extremas: perto de buracos negros, ou durante o Big Bang.

"Muitos físicos teóricos como eu estão trabalhando em uma revisão da teoria, e alguns grandes avanços vêm sendo feitos. Podemos estar à beira de uma nova revolução científica, que mudará radicalmente nossa visão sobre a própria natureza do espaço, do tempo e da gravidade", disse Verlinde.

Nenhum comentário